Soberba e graça

Por Edna S. Silva

A história da graça de Deus em minha vida é tão clara que eu não posso deixar de compartilhá-la.

Sou a segunda filha de um casal retirante do Nordeste, mais exatamente de Sergipe. Recém casados, vieram para São Paulo em busca de uma vida melhor diante do cenário que tinham. Eram lutadores e vencedores, mas com sobrecarga devido a cultura machista em seu contexto. Mulheres aceitavam a traição de seus maridos porque não podiam voltar à casa de seus pais – não seriam aceitas – ou não imaginavam uma vida próspera se optassem pela separação.

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Minha mãe deu à luz em casa, algo comum. Cresci com três irmãos, sendo eu considerada a mais levada e a menos bonita; aquela que sempre estava doente. Cresci ouvindo isso. Eu sentia que precisava me destacar em alguma área para sobreviver e ter uma história diferente. Foi na parte acadêmica que eu me destaquei.

Sempre fui ótima aluna, com notas altas. Aos quinze anos resolvi trabalhar fora, emprego mesmo. Antes disso eu ensinava as crianças com dificuldade, faxinava a igreja e cuidava de crianças. Com dezoito anos eu ingressei na USP em farmácia e na PUCCAMP em biologia. Aos dezenove eu fui aprovada no concurso da Petrobrás e no Instituto Agronômico de Campinas-SP. Meu desempenho escolar me proporcionou escolher o trabalho que eu queria. Enquanto muitos tinham que ralar para serem aprovados nos concursos, eu percebia que tinha uma facilidade incomum. Isso me dava demasiada confiança, acreditando que podia fazer tudo o que eu planejava. Eu era altiva e não via nada de errado nisso.

E foi assim até 2009. Eu estava numa sala de aula, lecionando alunos que eram considerados os “problemas” da sociedade. Não era fácil, mas eu tinha escolhido ser educadora. Por exemplo, havia ali meninas de treze e catorze anos que se prostituíam como forma de trabalho. Havia adolescentes trombadinhas e com crises de identidade sexual.  Foi neste contexto que eu tive minha primeira crise de esclerose múltipla. Apesar de ser professora de biologia, eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Eu sentia uma coceira enorme nos olhos; olhava para a sala e todos estavam “duplicados”. Uma de minhas pálpebras estava caída e o lado direito do meu rosto formigava.

Saí da sala, lavei o rosto e nada. Pedi dispensa e fui ao oftalmologista. A médica, assustadíssima, me enviou para o hospital, onde uma série de exames foi feita e o diagnóstico confirmado. Eu era portadora de esclerose múltipla.

Um silêncio ecoava dentro de mim. Chorei desesperadamente. Fiquei extremamente amedrontada. Seis anos já se passaram desde então e há dois anos eu tive um novo surto que me impediu completamente de retornar ao trabalho. Os focos se multiplicaram e hoje eles se encontram nos dois lados do meu cérebro e eu ainda não sei quais sequelas podem causar. Foram encontrados focos no mesencéfalo e na medula; meu equilíbrio, minha memória, minha visão e meu sistema nervosos estão comprometidos. Era para eu estar numa cadeira de rodas, mas o Senhor (ainda) não quis.

O Senhor me proporcionou um tratamento quimioterápico uma vez por semana, o qual restabeleceu todas as minhas dificuldades dentro de um certo limite. A minha memória tem encontrado diferentes caminhos no meu cérebro; as minhas pálpebras sofreram uma intervenção cirúrgica para ajudar o nervo óptico a levantá-las e o tratamento permitiu que os surtos cessassem. Tudo isso é graça de Deus!

Hoje eu sou aposentada por invalidez, mas exerço trabalho voluntário na minha igreja local (IBCU). Também participo do coral.

Eu era alguém que pensava ter o controle de minha vida em minhas mãos. Aprendi a depender do Senhor de uma forma inesperada. Depender dEle é muito bom.
Isto é graça!!! Eu confio nele; eu seguro em Suas mãos; eu olho adiante. Aprendi que a nossa vida não nos pertence. Tudo é dEle e para Ele.

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